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  • Foto do escritorDra. Daniela Telo

Comedores de Emoções ...


Quem nunca caiu no chocolate depois de um dia ruim ou não entende porque depois de jantar um bom prato de comida, continua com fome ... FOME ou VONTADE DE COMER ?


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Essa vontade impulsiva de comer, desvinculada da fome física é o que chamamos de comer emocional ou fome afetiva. Funciona assim: nosso cérebro possui áreas destinadas ao prazer. Quando existe uma mudança no estado de equilíbrio emocional qualquer que seja o motivo: tristeza, frustração, alegria, medo, ansiedade (sim, as pessoas são diferentes e, você certamente já observou que algumas pessoas param de comer quando estão tristes e, outra, tem compulsão alimentar na mesma situação, não é?), ficamos suscetíveis a chamada Síndrome da Recompensa: estado de necessidade urgente por prazer. A foto acima é tirada de um estudo em ratos e, mostra a mesma área de prazer cerebral sendo acionada, em igual intensidade seja pelo uso de cocaína, seja pela ingestão de açúcar. Natural, que substâncias que nos gerem prazer extremo, imediato, sejam lembradas em momentos oportunos. O que gera prazer em você pode variar bastante conforme experiências prévias de vida e hábitos atuais.

Sendo o alimento um elemento inegável e, diário de prazer, como evitar armadilhas para o comer afetivo ? Que tal começarmos por aceitar as emoções como parte do SER humano ? Tenho impressão, que não nos é mais permitido chorar ? Vivemos na era da medicalização de emoções, de uma hora para outra confundimos tristeza com depressão, raiva com transtorno de ansiedade, frustração com bipolaridade. Afinal, ao invés de buscar causas psicodinâmicas muitas vezes complexas e subconscientes de uma insonia, é mais fácil tomar melatonina não é ? Faz parte da geração imediatista que vivemos e, acredito que isso seja mais uma das várias outras causas para o comer emocional.

Por isso, a pratica ocidentalizada da meditação, na forma de Mindfulness, ou atenção plena, vem surtindo tanto efeito no tratamento da compulsão alimentar. Trata-se de aceitar o momento sem julgamentos. Não é incomum nos percebemos tristes. Não sei se porque não nos permitimos mais sermos humanos ou, se não sabemos o que fazer com isso ?

Se a impulsividade aparece mais de 3 vezes na sua semana, você precisa da ajuda de uma equipe multidisciplinar constituída por médico (psiquiatra ou endocrino especializado em obesidade), nutricionista e psicóloga. Juntos a você nesse processo complexo, contínuo e muitas vezes, doloroso de autoconhecimento, chegarão certamente a um plano de ação para ajudá-lo(a) a driblar os ataques de impulsividade que podem ser por comida, sexo, jogos, trabalho ou até exercício físico em excesso.

A impulsividade por comida, do inglês binge eating, pode se tornar parte de um transtorno alimentar como Bulimia, transtorno compulsivo periódico, e merecem um capítulo a parte, mas, você sabia que é possível modificar o tipo de alimento que lhe causa extremo prazer deixando de ingerir alimentos altamente palatáveis, como por exemplo, os fabricados com o propósito de vender mais ? Sim , estou falando dos alimentos ultraprocessados, cheios de flavorizantes, corantes, açúcares.

Se não acredita, te proponho um desafio: experimente ficar sem um alimento que lhe cause impulsividade, 1 mês sem chocolate, álcool ou pão por exemplo. Quando estiver com fome, física mesmo, aquela percebida por sinais como ronco/vazio no estômago ou fraqueza ao passar do horário habitual de alguma refeição, de preferência experimentando alguma situação que normalmente te levaria a buscar alimentos que te trazem prazer instantâneo, procure uma refeição balanceada sem o alimento trigger (gatilho) para sua impulsividade mas, ainda assim, compatível com seu paladar. Acredita que nosso cérebro é capaz de modificar o prazer conforme o alimento que colocamos na boca nesses momentos de fome ou privação ?

Para convencê-lo topo compartilhar aqui minha experiência pessoal. Pois é, sou magra e tenho compulsão alimentar desde que me conheço por gente. Já passei inclusive, por pouco tempo felizmente, por uma anorexia aos 15 anos de idade quando atingi 43kg e só comia 5 pães de queijo com tomate e limão (bizarro eu sei) 1x por dia ! Por sorte, fiquei livre dessa doença mas, até hoje guardo um comportamento compulsivo alimentar por chocolate e bolo simples com café. Se deixasse as emoções me dominarem, todo dia que pulo o almoço por excesso de trabalho, por exemplo, acabaria facinho facinho com uma barra de chocolate inteira sem dó. Com conhecimento no assunto (sem dúvida alguma, essa história me fez procurar a endocrinologia como profissão), hoje me obrigo a fazer a mesa, preparar a salada dos meus sonhos (muitos anos treinando meu cérebro a gostar de verdade da combinação de folhas, nuts e molhos cítricos - juro que tenho água na boca por molho de tahine, limão e alho espremido - sorry about that) antes de cair no chocolate. Depois da salada, me forço a comer alguma proteína mas confesso que minha parte vegetariana me dificulta muuito nesse processo. Acabo não variando muito além da quinoa, do ovo, frango ou do peixe e, se ainda assim tiver vontade de chocolate, já consigo deixar metade do tablete para o dia seguinte mas só se for o 85% cacau, senão...como mesmo e recuso todo e qualquer sentimento de culpa afinal desde quando a busca por prazer em comer se tornou algo a ser punido ? A resposta é simples: desde quando resumimos nosso prazer em viver ao ato de comer. Qual é a saída então ? Busque outros prazeres não apenas os comestíveis e, se vale uma última dica de uma endocrino compulsiva aí vai: "teve vontade incontrolável de comer alguma coisa, desprovida de fome ou prazer, primeiro pense: O que te levou a isso ? Se for a privação por estar de dieta (sou contra dietas restritivas porque causam compulsão alimentar mas, isso é assunto para um próximo post), coma uma refeição balanceada por favor com carboidratos nutritivos, escove os dentes e busque alguma outra atividade que lhe traga prazer: que tal sair com uma amiga (sano com frequência minha fissura por bolo por exemplo, quando tomo um cafezinho e uma fatia de bolo fora de casa quando já não há como repetí-lo), tomar um banho prolongado, fazer uma massagem relaxante, etc. Se mesmo assim ainda persistir a vontade, não invente mais nada no lugar, coma mas, sem culpa. É a culpa que nos faz repetir o ato compulsivo: com culpa por comer temos frustração. Frustrados caímos novamente na impulsividade e o ciclo se fecha. Relaxe então e, simplesmente aproveite o sabor da comida. Quando passarmos a aceitar que somos FALÍVEIS, que sentimos DOR, CHORAMOS, deixaremos de apagar emoções com os dentes.

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